JAMAIS QUERO JOGAR TÊNIS

Confesso, desde criança sonho em encontrar a pessoa certa para dividir o resto dos meus dias. Entretanto sempre tive grandes defeitos, fui demasiado detalhista, perfeccionista e constantemente valorizei qualidades com diretrizes fracas e efêmeras.
Acredito que depois que me encontrei com os livros escritos com "sangue", como ele mesmo afirma, o poeta Rubem Alves me inspirou a contemplar fundamentos que sustentariam melhor meus relacionamentos. Foi em um desses meus encontros com seus artigos que pude limpar minhas lentes contaminadas pelos "valores" hedonistas (prazer à cima de todas as coisas), materialistas, individualistas e outros "referenciais" que a pós-modernidade nos traz e nos impõem através dos meios de comunicação (novelas, músicas, Internet, e etc).
Pude compreender que o relacionamento verdadeiro é travado num campo, com os mesmos cuidados e estratégias do jogo de frescobol, (aquele que se joga na praia, com duas raquetes e uma bola). Pois existem dois tipos de relacionamentos, os do tipo tênis e do tipo frescobol.
Pascal certa vez afirmou: "O coração possui razões que a própria razão desconhece". Então, se a paixão é um sentimento que não se pode controlar com nossa própria vontade, preciso urgentemente saber para quem irei olhar e investir meus esforços, e para quem correrei o risco de doar minha vida por amor. Pois amar, como afirmaram os filósofos, é entregar a vida pela felicidade do outro, e foi isso que nosso Amado Jesus fez por cada um de nós.
O professor mineiro me mostrou que os relacionamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa. Alguém lhe ensinou que ´Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: ´Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?
Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar ". Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo: " Eu te amo, eu te amo...´ Barthes advertia: ´Passada a primeira confissão, ´eu te amo´ não quer dizer mais nada ". É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética. Aprendi, vendo o "Guga" na televisão, que o tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada.O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro A bola: são os nossos sonhos sob a forma de palavras e fantasias. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. No tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão (falta de paciência e gravidez precoce, desinteresse pela educação alheia dando pouca importância aos cursos que pretende fazer, negligenciar os dons e talentos ministeriais, desrespeitar aos princípios morais e espirituais, desfazer dos futuros projetos familiares, etc...). O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde. Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração (casar com pureza e na igreja, fazer faculdade, viajar, cantar, trabalhar num projeto social, fazer missões, exercer um ministério, morar em algum lugar, etc...). O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livres. Sonho vai, sonho vem - cresce o amor. Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim.
No frescobol, a diferença consiste que não é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola vem meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre.
Meu desejo é jogar "frescobol" com os sonhos e com as fantasias da pessoa que o Senhor me presentear. Para isso sei que precisaremos conversar. Pois a fala fará com que esses desejos sejam mantidos na esperança de concretização.
Dráuzio Varela nos receitou a magia da conversa: "emoções e sentimentos que são escondidos, reprimidos, acabam em doenças como gastrite, úlcera, dores lombares, dor na coluna. Com o tempo, repressão de sentimentos degenera até o câncer. Precisamos desabafar, confidenciar, partilhar intimidades, segredos, pecados. Diálogos, falas, palavras são poderosos remédios, excelente terapia".
Não quero prejudicar minha saúde física, pretendo não degenerar minha saúde espiritual, desejo não "dar cortadas" e negligenciar os sonhos que Deus regalará à princesa que ele me confiará. Por isso, vejo o dialogo como ferramenta fundamental para manter todas essas esperanças no alto, caso haja vacilo, quero poder ser o primeiro a me esforçar e estender os braços para que o sonho não caia e haja acidentes com nossas aspirações.
Senhor me ajude a praticar frescobol com todos meus relacionamentos (família, amigos e irmãos) e me ajude a agir com sabedoria para manter vivo, dentro da minha alma, os sonhos que o Senhor ousou sonhar para mim.